Eis o resultado das interpelações feitas a alguns dos seus tripulantes e passageiros. As respostas é que não cabem na cabeça de ninguém!

Quinta-feira, 28 de Outubro de 2010

Ontem, por estar a sentir-me um bocado perro, fui ter com a Ibiapina, que é a massagista da Nave dos Loucos. Fui encontrá-la a fazer o inventário de cremes e óleos. Esperei que ela arrumasse tudo como deve ser e, depois, sem lhe dar tempo a perguntar-me o que é que eu desejava, disparei: Olha lá, como é que eu sei se estou no caminho certo?

 

 

Ibiapina, relaxando no oceano.

 

Ela olhou para a minha cara e deve ter pensado que eu estava a precisar urgentemente de uma sessão de shiatsu. Mas nada disse a este respeito; ao invés, sentou-se, cruzou a perna, apoiou o braço esquerdo na borda da mesa de massagens e sentenciou:

 

Quando estás em paz com a tua consciência, estás no caminho certo. Estar no caminho errado é, pois, ter problemas de consciência. Quando fazes uma opção que te parece correcta - embora possas vir a admitir que estavas enganado - e, no entanto, muitos te hostilizam, estás no caminho certo. E nela continuarás desde que a tua consciência não retire o apoio que te deu no momento da decisão, mesmo que, depois, os resultados incomodem este ou aquele. Apesar de teres sido hostilizado, estás em paz com a escolha que fizeste, porque ela foi sugerida pelo teu coração. Acaso irás retroceder para que deixem de te acusar ou de apontar o dedo? Continuarás a agir em função da aceitação dos outros? Estar no caminho certo não é viver como se existência fosse uma auto-estrada acabada de pavimentar; estar no caminho certo é percorrer o Caminho, independentemente dos buracos que se apresentem. Por outras palavras, procura manter a serenidade, tenhas acertado ou errado. Ou seja, evita prender-te a ti mesmo por teres cão e por não teres!

 

Depois de ouvir este arrazoado continuei a sentir-me perro, mas deixou de me apetecer a massagem. Agradeci-lhe a resposta e, atordoado, subi para a sala de jogos, a fim de me distrair, tudo fazendo para não me perder no labirinto de corredores!

publicado por Gerador de posts às 07:25

Terça-feira, 26 de Outubro de 2010

Estava eu na amurada a ver os peixes voadores, quando senti um poderoso cheiro a cominhos. Virei a cabeça e vi o Schneider, que é o cozinheiro-chefe da Nave dos Loucos. Bonacheirão, com as bochechas a brilhar, aproximava-se a fumar a sua cigarrilha. Pareceu-me que não devia deixar passar a oportunidade para lhe perguntar: O que é preciso para vivermos com um mínimo de sofrimento?

 

 

Scheneider, numa das suas actividads favoritas.

 

Coçando as costas no pilar de suporte de um dos salva-vidas, ele respondeu: O ideal seria que pusesses de lado a ideia do sofrimento. Sabes, muitas vezes aquilo que te dói é a parte que não quer mudar. Um ser maleável, totalmente disponível para a mudança – ou seja, sem qualquer apego – não sofre. É impossível. Um mestre não sofre; pode, momentaneamente, estar triste. Mas essa tristeza decorrerá da sua profunda compaixão por quem o rodeia. Tal não pode ser chamado de sofrimento, porque ele sabe que já não resiste ao que ele tem de fazer. Por isso, caminha tranquilamente. Quem tem o coração suficientemente aberto para manifestar gratidão incondicional não pode sofrer, porque a sua Luz impede a aproximação das sombras do sofrimento. Por isso, amigo, trata mas é de te acenderes. Acende-te e retira a palavra sofrimento do teu vocabulário.

 

Fiquei a olhar para ele com cara de marinheiro enjoado e, sem nada dizer, pus-me a olhar para as nuvens, a fim de disfarçar a minha desconfiança em relação ao que ele acabara de dizer. Agradeci-lhe o conselho mas, lá no fundo, eu interrogava-me acerca do que quereria ele dizer com aquilo do «acende-te»!

publicado por Gerador de posts às 09:27

Quinta-feira, 21 de Outubro de 2010

Um dia acordei com uma vontade imperiosa de pôr um botão de rosa na lapela do casaco. Assim, fui ao encontro da Natalie, que é a florista da Nave dos Loucos, a fim de satisfazer o meu desejo vindo sabe-se lá de onde. Quando entrei na sua lojinha, ela estava a acabar de atender um senhora que comprara um ramo de túlipas para o seu novo namorado. Quando fiquei a sós com a Natalie dei comigo a perguntar-lhe: Tu desculpa, mas… Como é que eu posso melhorar espiritualmente?

 

 

Natalie, a caminho do nutricionista.

 

Ela, enquanto borrifava o meu botão de rosa com água fresca, foi dizendo: Por incrível que possa parecer, não melhoras espiritualmente apenas meditando muito. Melhoras, por exemplo, fechando a porta devagar, lavando a louça com doçura, sorrindo para quem te rodeia, fazendo uma lista daqueles com quem não estás em paz, para, depois, começares a resolver o assunto. A espiritualidade não tem nada de teórico. Não é uma coisa que se aprenda apenas em cursos e seminários. Tens de deixar de repetir incessantemente as atitudes que sabes que necessitam de correcção. Por outras palavras, não podes insistir nos mesmos erros. E não confundas «erro» com «pecado». O erro pode derivar de uma falta de consciência; aí há que ser compreensivo como fazemos com as crianças. Já o pecado, devido ao complexo de culpa que inevitavelmente gera, pode ser uma forma de te empurrar para o fundo do poço, quando, afinal, o teu coração deseja subir à superfície. Resumindo: queres saber como podes transformar-te num ser que não contamina o ambiente com o seu pivete energético? Podes começar por aprender a fazer como nunca fizeste!

 

Confesso que, quando ela me entregou o botão de rosa, eu sentia-me tão descoroçoado que a minha vontade foi sair pela porta fora em busca de ar fresco. Aprender a fazer como nunca fiz! Esta gente tem cada uma!

publicado por Gerador de posts às 10:59

Terça-feira, 19 de Outubro de 2010

Num dia de mar especialmente encapelado e de céu escuro, fui ter com o Petrovsky, que é o engraxador de serviço na Nave dos Loucos, para lhe perguntar: Como é que se pode ajudar as pessoas a educarem as crianças e os jovens?

 

 

Petrovsky, que nunca se cansa de admirar o mar.

 

E ele, cruzando os braços para esconder as unhas encardidas, respondeu-me da seguinte maneira: A educação é uma palavra muito escorregadia. Ora, como ninguém acorda enquanto não está pronto para acordar, tu farás como entenderes. No âmbito da educação, ou noutro qualquer, as pessoas devem ser ajudadas no nível onde se encontram, enquanto não derem quaisquer sinais de quererem mudar. Então, uma via possível é tu dizer-lhes que possuis informações que poderiam ajudá-las. E depois acrescentas: quando quiserem, digam-me. Com esta atitude, deixas ao seu livre arbítrio a decisão de virem ao encontro das tuas informações. Assim, não te intrometes e fazes uma oferta sugerida pela sua disponibilidade. Podes crer que, desta forma, evitas muitas chatices.

 

Quando me afastei, a ziguezaguear pelo tombadilho, devido aos balanços provocados pela forte ondulação, levava a sensação de que o Petrovsky também não devia estar lá muito bem!

publicado por Gerador de posts às 08:09

Quinta-feira, 14 de Outubro de 2010

Certa manhã de mar calmo, depois de ter passado a noite com uma chica que conheci no bar, pus-me a conversar com a Bashira, a professora, que é uma das passageiras da Nave dos Loucos. Às tantas, perguntei-lhe: O que é que me tens a dizer sobre a questão do aborto?

 

 

 

 

Bashira, brincalhona como sempre.

 

Levando a mão ao alto da cabeça como se precisasse de coçar o piolhinho, ela respondeu: Meu caro, a questão do aborto existe neste mundo porque a nossa sociedade considera a morte como um fim. Logo, «aborto» é sinónimo de «tirar a vida». É uma falsa questão baseada em premissas erradas, espiritualmente falando. É como se tu pegasses num cubo de gelo e, com a água a pingar da mão, dissesses que tiraste a vida à água; a água, porém, limitou-se a mudar de estado. É um velho problema que se prende com questões de ética e moral religiosa. Sabes, «tirar a vida» é algo impossível em qualquer ponto do universo, porque a vida não se tira nem se dá. Quando evoluirmos até alterarmos este conceito de «morte», passaremos a encarar essa mudança de estado de uma forma bem diferente. Nessa altura, todos estes desentendimentos acerca do aborto deixarão de fazer sentido.

 

Devo dizer que não me senti nada bem com esta conversa, até porque não percebi patavina do que a Bashira queria dizer. Estas coisas fazem-me sempre imensa confusão!

publicado por Gerador de posts às 09:19

Terça-feira, 12 de Outubro de 2010

Estava eu a tomar o pequeno-almoço, quando o Cameron, que é um dos bancários que viaja na Nave dos Loucos, veio sentar-se à minha mesa. Quando acabei de comer o meu pãozinho com queijo, dei-lhe os bons-dias e logo senti um impulso irreprimível para lhe dizer o seguinte: Às vezes acontecem-me coisas estranhas. Há uns tempos atrás, certa noite, estava eu deitado quando algo ergueu uma parte do meu corpo, com muito carinho. E já não é a primeira vez. Terá sido impressão minha ou foi uma experiência real?

 

 

Cameron, descomprimindo na sua herdade.

 

E ele: Bom, eu não sei se já reparaste que o conceito de «estranho» e de «normal» mudou. O que era estranho ou anormal há um tempo atrás, hoje já não é. O nível, a linha zero, subiu. Todas as sensações, visões, percepções, visualizações são normais. Se tu as tens, por que haveriam de ser anormais? Então, em vez de pensares que se trata de uma impressão anormal, agradece a visita. Se sentires medo, porém, recusa. Não autorizes o que visitantes pretendem fazer-te. Se sentires medo, imagina um tubo de luz dourada à tua volta e, depois, diz-lhes que não os queres junto de ti. E nunca penses que estás com alucinações. Tu tens vivido num contexto onde não se passava quase nada; agora, porém, estás num contexto onde podem acontecer muitas coisas, das quais não tens referências para poderes comparar! Daí a surpresa e a confusão.

 

Não é que me apetecesse café. Mas só para desandar dali e deixar de ouvir coisas que me assustavam, desculpei-me que tinha de ir ao bar. O Cameron lá ficou, à mesa, tranquilamente, a deleitar-se com a sua saladinha de frutas!

publicado por Gerador de posts às 08:27

Domingo, 10 de Outubro de 2010

Num dia de céu cinzento e horizonte tapado, saí à procura da Ingrid, que é a manicura da Nave dos Loucos. Quando a encontrei dei-lhes os bons dias e logo lhe perguntei: Olha lá, Ingrid, diz-me cá uma coisa. Qual é a diferença entre cepticismo e ignorância?

 

 

 

Ingrid, a manicura, durante o passado fim de semana.

 

E ela, limpando do colo o pó das unhas do cliente que acabara de sair, fechou os olhos, pensou durante um bocadinho e respondeu: Ninguém é obrigado a saber o que ainda não lhe chegou. Mas há os ignorantes que têm o coração fechado e há os ignorantes de que já têm coração aberto. Estes, porque sentem, não precisam que se lhes diga muita coisa. Talvez por isso, não sejam tão ignorantes assim.

 

Podia ter aproveitado os serviços de Ingrid. Realmente, por ter estado a remover o encardido da banheira, as minhas unhas estavam uma desgraça. Mas confesso que me afastei do seu gabinete de trabalho com a sensação de que o melhor era ir beber um copo!

publicado por Gerador de posts às 09:53

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