Hoje de manhã dei de caras com Nobutaka, o hoteleiro, um dos passageiros da Nave dos Loucos. É curioso que nunca me tinha cruzado com ele. O seu ar simpático e receptivo cativou-me de imediato. Entabulámos conversa e, quando ele me disse que tinha cinco filhos, eu não resisti a perguntar-lhe: Porque é que as pessoas têm filhos? Na tua opinião, qual o propósito de trazer uma criança ao planeta?
Nobutaka, muito entretido uma tarde de domingo caseiro.
Ele, com um ar de quem é especialista na matéria, pôs-me amigavelmente a mão no ombro e proclamou: Certamente haverá muitas respostas para as tuas perguntas, meu caro. Por exemplo, porque é costume, porque é motivo de orgulho, porque é biologicamente correcto, porque compõe a família, porque é preciso dar continuidade à espécie, etc. Estas são algumas das respostas comuns, comezinhas, típicas do plano humano. Mas se tu pretendes abrir a tua consciência, tens de começar a acrescentar outro tipo de razões, derivadas de uma visão mais ampla. Tu já me disseste que não tens filhos. Mas, se algum dia vieres a ter um, essa criança não virá à Terra para tu lhe fazeres bilú bilú, como se fosses pateta. Também não será para te embeveceres com ela ou, no pior dos casos, para perderes as estribeiras durante a noite porque ela, berrando desalmadamente, não te deixa dormir. Se algum dia vieres a passar por essa experiência procura lidar com a criança como se ela fosse um emissário dos planos superiores, alguém, a quem deves honrar e saudar. Uma criança não é só um complexo biológico altamente sofisticado; é, antes disso, um complexo vibracional que, uma vez materializado na Terra, espera que tu lhe proporciones as condições, não para ser o que tu gostarias que ela fosse, mas para poder concretizar o que cá veio fazer. Nem tu nem ela sabem do que trata, mas isso não tem importância. Só tens de estar atento aos sinais. Sem alimentares expectativas, está claro.
O Nobutaka pode ser uma excelente pessoa, um incomparável pai de família, um trabalhador incansável. Eu, porém, não me quero ver nesses assados, ainda por cima baseando-me em argumentos que ninguém percebe!