Levei que tempos para me livrar dos efeitos da conversa de ontem. Mas algo me estimula no sentido de continuar a procurar as razões do meu desencanto e infelicidade. Ontem, quando estava na fila para levantar dinheiro, chegou a Minneli, que é uma das tradutoras da Neve dos Loucos. Como tínhamos uma data de gente à nossa frente, perguntei-lhe: Olha lá, porque é que parecemos galinhas tontas, sem qualquer noção do rumo a seguir?
Minneli, desconfiada com o fotógrafo.
A minha amiga respirou fundo, rodou o cartão do multibanco entre os dedos e, sem pestanejar, respondeu: Meu caro, a questão não é «porque é que…», é saber «para que é que…»! Tu sentes-te uma galinha tonta para aprenderes a orientar-te, para reconheceres que tens uma bússola interna que te ajuda a ler, como deve de ser, o teu mapa pessoal. Não precisas de chegar ao desconforto para dizeres «basta» ao jogo da galinha tonta. Estás neste jogo para aprenderes a reconhecer para que lado é que te deves virar. Mas que não sejas tu, enquanto mera consciência terrena, a decidir qual o rumo a tomar. No fundo, tu já conheces a solução para os teus problemas, mas não acreditas nelas, porque ainda julgas que o coração mente. Todavia, mesmo que aceitasses essas soluções, tal não garantia que viesses a pôr em prática! Por isso é que te pões a perguntar: «Como é que eu sei que isto está certo?» O que o teu coração te diz – e tem dito sempre, mas tu não ouves - é para acabares com esse medo! Como? Simples: abdica das tuas desgraças e conquistas, sabendo que foram apenas movimentos de sobrevivência e não de real crescimento. Despoja-te da tua história e entrega-te. Depois, prepara-te para, nos primeiros tempos, ficares completamente desorientado! Esquece-te do que fizeste e do que deverias ter feito mas não fizeste. Deixa de enaltecer as tuas glórias e lamentar as derrotas. Pensar que alguém ganha ou perde alguma coisa nenhuma, é um erro de visão de quem é espiritualmente míope!
Pior a emenda que o soneto! Esta gente tem cada uma! Se eu me esquecer do que fiz de bom, vou ficar pior do que já estou. Seja como for, agradeci à Minneli por me ter ajudado a passar o tempo de espera na fila no multibanco. Introduzi o cartão na ranhura, levantei dinheiro e fui comer uma costeleta.