Não vem ao caso, mas sempre confesso que a costeleta de ontem me caiu muito mal. Às três da manhã ainda estava na cama a arrotar a olho frito. Claro que me levantei tarde. Andava eu a passear, a ver de desinchavam as olheiras, quando encontrei o Guevara que é um dos farmacêuticos da Nave dos Loucos. Desesperado, perguntei-lhe: Que devo eu fazer para passar a acreditar em Deus?
Guevara, na conversa.
Rindo-se descaradamente, o Guevara respondeu: Não tens de fazer nada! Estás interessado em acreditar em Deus? Mas… qual Deus? O que entendes tu por «Deus»? Seja como for, pouco importa. Basta que acredites na tua versão de «Deus», a expresses sinceramente, para seres um exemplo daquilo em que acreditas. Esta é melhor forma de sentires que acreditas em algo que te transcende. Mas fica quieto. O tempo do missionarismo já vai longe. Não te ponhas a convencer alguém a «acreditar em Deus», pois é uma tarefa complicada. Se te armas em missionário, é provável que acabes por chegar a conclusão de que é tempo perdido. Faz como eu, simplifica! Lembra-te: no dia em que alguém estiver pronto para «acreditar em Deus», como tu dizes, isso acontecerá naturalmente. Não precisará de quem o convença. De qualquer forma, se vieres a investir na «conversão» de alguém pergunta-lhe primeiro se ele quer passar a «acreditar em Deus». Por favor, evita persuadir ou convencer seja quem for a «converter-se» só porque tu achas que tal deve acontecer. É perfeitamente possível passares a viver feliz, em paz e irradiando Luz – que é o que interessa - sem «acreditares em Deus». Basta que te reconheças como um ser composto por uma parte terrena e outra supra terrena, as quais provêem da mesma fonte. Não será isso a mesma coisa do que acreditar a Deus?
Eu meto-me em cada uma! Quem me manda a mim andar por aí a chatear toda a gente com perguntas, quando a ressaca do alho frito me chegava perfeitamente? É muito bem feito, qu’é pra aprenderes!