Vivo rodeado de muita gente que não interessa a ninguém, mas, felizmente, ainda vou encontrando pessoas de quem posso tirar algum proveito. É o caso do Monet, que é um dos dentistas da Nave dos Loucos. Foi por isso que, quando ontem o encontrei, logo aproveitei para lhe perguntar se ele sabia qual era a maneira mais fácil de lidar com o impulso da vontade. Ele, inspeccionando as suas unhas, respondeu:
Monet, a descansar.
Olha, amigo, quanto a essa questão da vontade, o melhor que há a fazer é manifestá-la. Ou seja, sem perderes a base do bom senso, não te reprimas. Sabes porquê? Porque algo em ti sabe perfeitamente o que é conveniente para ti. Esse «algo» é o teu coração, como se costuma dizer. Ele é o símbolo da tua essência, que, no silêncio e na quietude – e não no meio da chinfrineira com que gostas de te rodear – tudo faz para dar uma boa orientação aos teus passos. Assim tu deixes! Podes não acreditar, mas esta é a forma de não cometeres tantos erros. Se queres que te diga, trata mas é de manifestar as tuas vontades claramente. E, já agora, sem medo do desconhecido e das consequências que delas possam resultar. Digo-te isto porque eu já sei que, se estiveres distraído, começas logo a projectar consequências assustadoras. É a tendência natural. Mas quem te garante que assim será? Habitua-te a encarar as coisas pelo lado positivo. No meio da insanidade deste mundo, não é fácil, mas é possível. Nunca te esqueças de que a vontade – não o desejo - sempre te levará ao encontro daquilo que precisas de experimentar e de aprender. Mas é preciso que te afoites.
Quanto mais me dizem para ser afoito, mais eu me encolho! Tem sido assim ao longo de toda a minha vida. Monet, o dentista, não me aplicou a sua broca odontológica, mas foi quase como se a tivesse usado. Fruto da conversa, saí dali com um zumbido nos ouvidos que me fazia lembrar esse instrumento de tortura!